Dona Lélia da LBA – Maneira Solidária de Ser
Conversando com o amigo Alex de Castro, concordamos que existem entre os humanos, algumas pessoas que na verdade são anjos da solidariedade. Chegamos a conclusão que Gudrun Lélia Von Mühlen, uma mulher que se dedicou servir as famílias mais carentes do município de Estrela, é um desses anjos. Durante toda sua vida foi incansável para saciar a fome de muitas crianças ou aquecê-las durante o frio do inverno. Passava horas visitando as famílias dos bairros carentes, quando parava nas residências e perguntava: Dona Maria está faltando alguma coisa? Como estão as crianças? Olha, hoje tem reunião do clube mães, vamos aprender a fazer agasalhos, crochê, tricô ou chá caseiro.
Nascida em 30 de janeiro de 1925, em Santa Maria, Lélia como era conhecida por todos, foi a décima filha de João Seerig e Paula Seerig, imigrantes alemães vindos de Berlim, Alemanha.
Casou-se em 1945 com Otemar Von Mühlen nascido em São Pedro do Sul. O casal teve três filhos: Norma Laí, Arno Ervin e Renato.
Em 1953, em razão das atividades profissionais do Sr. Otemar, a família se mudou para Estrela, onde Dona Lélia desde logo demonstrou sua maneira solidária de ser, com intenso trabalho junto à comunidade.
Foi professora municipal na Escola Osvaldo Cruz, na Linha Figueira em Estrela, onde além de dar aulas, também exerceu papel de líder ecumênica da comunidade, lecionando o catecismo católico para primeira comunhão apesar de ser evangélica luterana. Preocupada em servir os mais necessitados incentivava seus alunos para continuar os estudos, contando com pessoas de sua relação para encaminhamento dos mesmos.
Liderou uma campanha para construção da Capela Nossa Senhora dos Navegantes em Linha Figueira onde foi homenageada em 2009, na passagem do cinquentenário da comunidade.
Ao deixar o magistério se dedicou ao trabalho no comércio da família, juntamente com seu esposo.
Em sua vida comunitária exerceu a função de Secretária da Legião Brasileira de Assistência (LBA) por muitos anos. Mesmo depois de seu desligamento da entidade, era sua referência.
Dona Lélia atuando na LBA foi uma das fundadoras dos Clubes de Mães de Estrela, onde além da Presidência, teve participação em outros cargos, incentivando a participação das mulheres, voltando as atenções à saúde, alimentação e bem estar das associadas e familiares, onde ensinava trabalhos manuais (tricôs e crochês) ao cultivo de plantas e chás caseiros. Organizava as viagens de final de ano dos Grupos dos Bairros, buscando proporcionar momentos de diversão, lazer, música e cultura.
Chegou a receber o título de Mão do Ano, quando representou Estrela em concurso Estadual, ficando entre as finalistas.
Participou também do Grupo de Danças Folclóricas de Estrela, fazendo parte dos desfiles e apresentações nos Bailes do Chucrute, e das festividades em maio, mês do aniversário de Estrela.
Hoje, com 88 anos, Dona Lélia vive em sua residência, na sua querida Estrela, com seu filho mais novo Renato, cercada pelo carinho dos filhos, seis netos e oito bisnetos.
Sobre a LBA
A primeira instituição social de âmbito nacional, durante a segunda Guerra Mundial, em clima de vibração cívica, surgiu a LBA (Legião Brasileira de Assistência), sob a inspiração da Primeira Dama do país, Sra. Darcy Sarmanho Vargas.
A extinção da Legião se deu no ano de 1995, quando um decreto presidencial assinado por Fernando Henrique Cardoso colocou um ponto final na sua história.
O período de 53 anos da LBA foi assinalado por diversas mudanças. Mas, por outro lado, deixou marcas importantes na cultura e nas práticas da assistência social no Brasil. A instituição se tornou a maior Agência de serviço Social do país, implementando políticas assistenciais, marcadas por ações de auxílio emergencial. Outra característica foi a utilização de voluntários para desenvolver ações complementares.
Em Estrela atendia as demandas sociais em grupos (menor, gestante, idoso e outros) ou em necessidades (lazer, educação alimentação, etc), dando margem aos chamados critérios de elegibilidade para a concessão dos benefícios ou prestação de serviços.
Depoimento: “ Considero Dona Lélia minha segunda mãe”
Vilmar da Silva, morador do bairro Imigrantes, lembra quando Dona Lélia visitava sua residência na chácara da Prefeitura e convidava sua mãe Valdaci Terezinha da Silva, para participar do Clube de mães, ou trazia algum alimento para as crianças, muitas vezes leite, pois nem sempre tinham recursos para adquirir.
“Quando não havia leite em pó na LBA, Dona Lélia, com recursos próprios comprava leite de saquinho”, afirma emocionado.
Vilmar considera Dona Lélia sua segunda mãe, que ajudou sua família em momentos de dificuldades.
Disse ainda que Dona Lélia voltou suas atenções para os engraxates de Estrela, de condições humildes, que desde muito cedo, 9 ou 10 anos de idade, já perambulavam pelas ruas da cidade, com caixas nas costas, quando o anjo da solidariedade lhes ajudava na alimentação, roupas e calçados.
Texto e fotos: Airton Engster dos Santos
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