domingo, 22 de junho de 2014

Galã de cinema, Alberto Ruschel viveu da fama ao esquecimento


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Galã de cinema, Alberto Ruschel viveu da fama ao esquecimento - 

Nascido em Estrela, em 1918, o artista Alberto Ruschel arrebatava fãs nos anos 1950. O ator e diretor de cinema consagrou-se a partir do filme “O Cangaceiro” (Vera Cruz, 1953), de Lima Barreto, no qual foi protagonista. A produção conferiu ao Brasil seus primeiros prêmios internacionais – melhor filme estrangeiro e melhor trilha sonora, no festival de Cannes, na França.

A fama de Alberto Ruschel transpôs o território nacional. Fez filmes no estrangeiro, sobretudo na Espanha. Foi rico e morreu pobre – em 1996, por complicações decorrentes de cirurgia cardíaca, no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro.

Filho de Alberto e Rita Ruschel, cresceu em uma chácara em Arroio do Ouro. Com a morte do pai, ainda menino, mudou-se com a mãe e os cinco irmãos para Porto Alegre. Na adolescência, já revelando pinta de galã, fazia sucesso junto às colegiais que observavam a movimentação na rádio pioneira da Capital, a Gaúcha, onde Alberto trabalhava como produtor.

Tornou-se ator aos 30 anos. Antes do palco, foi cantor, junto com o irmão Paulo Ruschel, na década de 1940, integrando o conjunto musical “Quitandinha Serenaders”, tido como um dos precursores da Bossa Nova. Da música, Alberto entrou para o cinema e viu sua carreira ascender rapidamente. Mesmo distante do Rio Grande do Sul, sempre manteve o vínculo com as origens. É o que assegura o filho Alberto – “Beto”, que herdou o nome do pai –, também produtor de cinema, em São Paulo: “De certa forma, ele nunca se desligou da sua terra. Sempre que podia, voltava, levava amigos para conhecer Estrela”.

A consagração

Dentre os mais de trinta filmes em que atuou, Alberto ficou marcado pelo perfil do personagem de “O Cangaceiro”, quando contracenou com nomes como Vanja Orico e Adoniran Barbosa. O taciturno Teodoro é escapa com a mocinha da história.

A trama, embalada pela premiada música “Mulher Rendeira”, na interpretação do grupo Demônios da Garoa, é inspirada na história de Lampião. Ruschel, na promoção das obras do gênero, é identificado como “o gaúcho másculo e destemido que enfrenta mil e uma peripécias”. A jornalista e doutora em Comunicação Social Adriana Ruschel Duval, sobrinha-neta, confirma: “Ele tinha porte físico e expressões que combinavam bem com a interpretação de personagens fortes”.

A Secretaria de Cultura e Turismo de Estrela conserva fotos do artista em visitas à terra natal. São raras e preciosas lembranças, que reverenciam o homem considerado “filho ilustre” da cidade. Para a historiadora Letícia Oliveira, Alberto Ruschel “teve uma importância enorme para a cidade”. Ela recorda uma passagem, quando da exibição do filme no Cinema Guarany, em que o ator veio para Estrela e foi recebido com festa. “Desfilou pelas ruas da cidade”, lembra. Outra referência da vida do artista em Estrela é a casa onde nasceu, que já abrigou uma escola comunitária. Com 150 anos, está preservada e hoje pertence a familiares.Alberto também frequentou o município para participar das festas da família Ruschel , sobretudo entre os anos de 1980 a 1990. Nessas oportunidades, revia parentes e amigos. Contudo, as novas gerações estão distantes do passado glorioso desse estrelense da tela grande. “É preciso pensar em formas de socializar sua história e o orgulho que Estrela certamente tem de um homem que chegou onde ele chegou e levou o nome da cidade para além do Brasil”, considera a sobrinha-neta Adriana. 

Beto Ruschel ressalta que o pai tinha afeição por visitar cidades do interior. Divertia-se com os “causos de gente brasileira”, de pessoas que viviam afastadas dos grandes centros. Teria percorrido o Brasil para incorporar intensamente seus projetos. “Sonhou com um bom cinema, com histórias boas e brasileiras, com algum incentivo do governo. Leu tudo o que encontrou sobre os nossos índios, me levou para a reserva do Xingu, aprendeu tudo sobre a retirada da Laguna, sobre os Muckers, sobre Santa Catarina”, relata Beto, em um texto emocionado que publicou por ocasião da morte do pai.

O estrelense que ganhou o mundo com sua arte faleceu cinco dias antes de completar 78 anos. Tinha a saúde debilitada pelos excessos dos velhos tempos. “Em 1991, ofereci a ele um café. Pediu que fosse com leite, estava proibido de agravar as úlceras. Naquela ocasião gravei uma entrevista sobre sua vida. Ele fez menção à televisão como grande vilã de sua carreira e do cinema nacional. Chegou a fazer novela, mas não via arte naquele meio. Negou-se a ‘se render’ à telinha”, revela a sobrinha-neta. Antes de partir, foi homenageado com o troféu “Oscarito”, no Festival de Cinema de Gramado, e na oportunidade concedeu entrevista no programa de Jô Soares.

Alberto Ruschel foi tema na tese de doutorado da historiadora Miriam Rossini (1998),que enfoca os cineastas gaúchos e a filmografia do Pampa. Ruschel sempre preferiu os filmes rurais. No total, dirigiu, produziu e estreou 33 filmes e uma novela. 

Os irmãos Ruschel

A família Ruschel contribuiu com o trabalho voltado à arte e à cultura não apenas com Alberto. Seus irmãos Nilo, Ernani, Paulo e Ruth tiveram expressivas participações no âmbito do rádio e da produção musical. O professor e historiador José Alfredo Schierholt registrou esse legado na obra “Estrela, Ontem e Hoje” (2002).

Paulo Ruschel: foi compositor e cantor. Compôs a música “Os Homens de Preto”, considerada, por voto popular, uma das dez mais importantes do Estado. Foi gravada até mesmo por Elis Regina e serviu de trilha do programa Campo e Lavoura, da RBSTV. Paulo e Alberto atuaram no conjunto Quitandinhas Serenader’s e faziam muito sucesso nas rádios.

Nilo Ruschel: foi jornalista, escritor, advogado, suplente de deputado estadual, assessor político, e dos primeiros professores universitários de Jornalismo (PUCRS e UFRGS, anos 1950). Junto com o irmão Ernani foi locutor pioneiro do rádio gaúcho, atuando nas emissoras Gaúcha e Difusora, nos anos 1930 e 1940.

Ernani e Ruth: atuaram no meio radiofônico, Ernani como locutor, antes mesmo do ingresso do irmão Nilo. Ruth interpretou personagem no que se considera o primeiro programa infantil do rádio no RS, em 1934, pela Gaúcha. Também nessa emissora, Ernani fez a primeira narração radiofônica de uma partida de futebol, em 1931, em jogo entre Grêmio e Coritiba.

Fotos enviadas:
Crédito: Acervo da Família Ruschel
Texto: Andreia Rabaiolli para revista O GUAXO/ MAIO 2014

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